Foi para ficar mais próxima de seu amor que Carla Rincón decidiu, há 13 anos, mudar-se para o Brasil. Natural da Venezuela, a atual diretora artística e violinista do Quarteto Radamés Gnattali relembra o primeiro contato que teve com a música de Heitor Villa-Lobos (1887-1959). “Eu tinha 17 anos quando toquei o ‘Choro N.º 6’ na Orquestra Simón Bolívar, e fiquei apaixonadíssima”, lembra.
Para homenagear os 150 anos de nascimento do maestro, ela se apresenta ao lado de seus companheiros de quarteto, formado por Andréia Carizzi (violino), Hugo Pilger (violoncelo) e Marco Catto (viola), a partir desta quarta-feira (21), no Centro Cultural Banco do Brasil.
Divididas em quatro dias, as apresentações contemplam diferentes fases da trajetória de Villa-Lobos com ciclos denominados “Nacionalista”, “Exploração”, “Música Urbana” e “Maturidade”.
“Você percebe claramente essas características descritas nos títulos, porque o Villa-Lobos era uma pessoa curiosa e criativa, que, a cada momento, voltava seu olhar para um lugar e acrescentava novas formações e experiências na música dele”, infere Carla. Para a instrumentista, as últimas composições do maestro revelam sua consciência em relação à proximidade da morte, causada por um câncer que o acometeu por dez anos. “Ele se sabia doente e as músicas replicam essa tristeza e essa melancolia. Villa-Lobos retorna à origem, ao seu Brasil, porque está envelhecendo e quer ser mais simples. É como um fechamento de ciclo. Depois de todas as experimentações ao longo da vida, ele busca um conhecimento que não está mais na dificuldade, e se aproxima da sabedoria”, constata.
Missão. Com 11 anos de carreira e sete discos lançados, o Quarteto Radamés Gnattali foi o primeiro do mundo a registrar para DVD os 17 “Quartetos de Cordas” compostos por Villa-Lobos. Além disso, gravou 13 programas para a TV Educativa tocando e explicando a obra do maestro. Como se não bastasse, o grupo realiza periódicas apresentações em escolas públicas do país munido desse repertório. “Quando vim para o Brasil, fiquei chocada com a relação dos músicos locais para com o Villa-Lobos, porque senti que eles, de certa forma, o desprezavam. Aquilo para mim foi uma loucura e eu senti que tinha que fazer algo”, desabafa Carla.
A missão iniciada com a criação do quarteto valeu à trupe diversos prêmios musicais e indicações para o Grammy Latino, Prêmio da Música Brasileira e Prêmio de Cultura do Governo do Rio de Janeiro.
“Os brasileiros ainda não sabem quem é Villa-Lobos, um verdadeiro herói nacional. Nossa proposta é levar uma leitura popular para a obra dele, porque todos sabemos que o Villa não ou pela academia. Sua educação foi na rua, em rodas de choro, pesquisando o folclore, acho isso fantástico, espantoso. Quando você toca suas músicas, percebe a presença do maxixe, do samba e até citações aos sons produzidos pelos amoladores de faca no interior do Brasil. Tenho que tocar esse ritmo, esquecer um pouco o que está escrito na partitura para chegar a essa síntese entre popular e erudito que ele promoveu. E não enquadrá-lo como se fosse Mozart”, compara.
Inclusão. Com toda essa bagagem, parar não está nos planos do conjunto, que já tem em mente dois projetos, um com a obra integral do compositor Guerra-Peixe e outro dedicado ao repertório do amazonense Claudio Santoro, cujo centenário de nascimento será celebrado em dois anos. Assim como o atual concerto, todas as apresentações do grupo trazem programas escritos em braile.
“Se estamos falando em democratização, precisamos chegar a todos, e não apenas a algumas camadas da sociedade. Uma nação precisa se juntar não apenas pela economia; a cultura é parte fundamental nesse processo. Não deve existir expressão artística que não promova inclusão”, avalia.
Programação
21/6 Palestra com Paulo de Tarso Soares Salles, às 19h30; Concerto: “Ciclo Nacionalista”, às 20h30
28/6 Palestra com Márcia Ladeira, às 19h30; Concerto: “Ciclo Exploração”, às 20h30
5/7 Palestra com Turíbio Santos, às 19h30; Concerto: “Ciclo Música Urbana”, às 20h30
12/7 Palestra com Hugo Pilger, às 19h30; Concerto: “Ciclo Maturidade”, às 20h30
Entrada Gratuita
CCBB (praça da Liberdade, 450, Funcionários)