O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão ligado à Força Área Brasileira (FAB), concluiu a investigação do último acidente do antigo aeroporto Carlos Prates, em Belo Horizonte, em março de 2023. A aeronave matrícula PT-FLK não conseguiu pousar, extrapolou a pista e caiu em cima de duas casas. O piloto, um médico oftalmologista, morreu na hora, enquanto a filha dele foi socorrida com ferimentos graves.
A investigação do Cenipa descartou qualquer falha mecânica na aeronave. O Cessna modelo R182 tentou pousar no aeródromo, mas não conseguiu na primeira vez e arrematou. Nessa tentativa, o trem de pouso estava abaixado. Já no segundo pouso, o dispositivo estava recolhido. Na cabine, os investigadores constataram que a alavanca do dispositivo estava levantada, ou seja, o piloto não desceu o trem de pouso.
De acordo com as transcrições dos áudios de comunicação entre a aeronave e o aeroporto, o piloto não reportou falha mecânica ou qualquer outra emergência. Conforme o relatório obtido pela reportagem, desde o momento da arremetida após o primeiro pouso, que teve um toque tardio na pista, se aram 2 minutos e 10 segundos. Na segunda tentativa de pouso, o piloto não efetuou o circuito padrão de tráfego.
Segundo o Cenipa, um dos fatores contribuintes para o acidente foi a inadequada aplicação de comandos por parte do piloto, que tocou a pista a 180 metros da cabeceira oposta e com o trem de pouso recolhido. “O piloto avaliou inadequadamente a execução da segunda tentativa de pouso, vindo a tocar a pista com o trem recolhido a poucos metros da cabeceira oposta. Ademais, não executou o procedimento de arremetida quando ainda era possível, antes do toque. O pouso foi realizado de forma alongada, o que exigiria uma arremetida. Dessa forma, o processo decisório atrasado do piloto gerou respostas não adequadas, contribuindo para a excursão da pista e para a colisão da aeronave contra residências”, aponta o relatório.
O centro de investigação ressalta que a apuração foi conduzida com base em fatores contribuintes e hipóteses levantadas, sendo um documento técnico que reflete o resultado em relação às circunstâncias que contribuíram ou que podem ter contribuído para desencadear esta ocorrência. “Não é foco da investigação quantificar o grau de contribuição dos fatores contribuintes, incluindo as variáveis que condicionam o desempenho humano, sejam elas individuais, psicossociais ou organizacionais, e que possam ter interagido, propiciando o cenário favorável ao acidente. O objetivo único deste trabalho é recomendar o estudo e o estabelecimento de providências de caráter preventivo, cuja decisão quanto à pertinência e ao seu acatamento será de responsabilidade exclusiva do Presidente, Diretor, Chefe ou correspondente ao nível mais alto na hierarquia da organização para a qual são dirigidos”, ponderou.